quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

CONFLITOS DA ALMA GANHAM NARRATIVA A MODA DE CHARLIE KALFMAN


É IMPOSSÍVEL NÃO RELACIONAR A HISTÓRIA DE "ALMAS À VENDA", ESCRITO E DIRIGIDO POR SOPHIE BARTHES, COM AS NARRATIVAS MUITO BEM ENTRANHADAS DE CHARLIE KALFMAN.

Depois de infiltrar seus personagens dentro do cérebro alheio em "Quero ser John Malkovich", inventar uma forma de sumir com memórias indesejadas no romance "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", ensinar etiqueta a ratos de laboratório em "Natureza Quase Humana", ser seu próprio protagonista em "Adaptação.", e confundir o público no que diz respeito à ficção e realidade em "Confissões de uma Mente Perigosa" (Ufa!), Kalfman deixou uma forte marca de seu trabalho sobre conflitos existenciais e um legado de fã de filmes "psico-fictícios" (em oposição à ficção científica).

"Almas à Venda" (2009) é mais um belo roteiro, que apesar de previsível para quem já conhece o trabalho de Kalfman, pode entreter e dar motivos para quem ainda não conhece, ir atrás. Porém, com perdão da insistência na comparação, Sophie Barthes não inova e tão pouco faz tão bonito quanto o colega veterano, Kalfman. O enredo de Barthes apresenta situações desconexas, que pouco enriquecem a história. E, além disso, o filme falha em causar emoção no espectador. Ele é pouco engraçado, pouco dramático e pouco charmoso.

Estreando na direção de longas, Sophie Barthes fez de seu filme uma cópia cuspida de um pout-pourri dos filmes citados aqui no início. "Almas à Venda" parece fraco, sem os recursos bizarros que ilustram a desconstrução de mentes, e apresenta atuações comuns.

Da mesma forma que Kalfman usa um personagem real para uma história fictícia como Jonh Malkovich interpretando ele próprio em "Quero ser John Malkovich", desta vez é Paul Giamatti ("O Anti-herói Americano" e "Sideways"), como ele mesmo, que está passando por um período difícil e decide que o que o aflige é o peso de sua alma.

A criatividade de Barthes nos leva, então, à uma clínica onde, com uma máquina parecida com a de Ressonância Magnética, pode-se remover a alma e, se quiser, trocar por outra. A trama fica por parte dos russos. Depois que Paul Giamatti se livra de sua alma, ele percebe que não sente mais nada e decide devolvê-la ao seu corpo, porém descobre que ela foi roubada pela máfia russa de almas. (!!!!???? The russians!!!!!!!!)

Não espere por detalhes de "comos" e "porquês". O filme é mais uma possibilidade absurda que Barthes encontrou para aliviar a dura pena de levar a vida preso a um corpo condenado à realidade existencial.

O título original , "Cold Souls" (Almas Frias), parece refletir mais a atmosfera do filme com seus personagens indiferentes à essência da alma. Talvez seja possível traçar um paralelo com a banalização das cirurgias estéticas hoje em dia.

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