sexta-feira, 8 de julho de 2011

Miuccia Prada

HÁ APENAS DOIS ANOS DE COMEMORAR O CENTENÁRIO, A GRIFE PRADA MANTÉM-SE NAS MÃOS DA NETA DE SEU FUNDADOR

Miuccia Prada tinha tudo para não seguir os passos do avô. Simpatizante do partido comunista, ela optou por estudar Ciências Sociais e teatro, mas aos 29 anos acabou por assumir a empresa da família e, contrariando (e superando) as expectativas, sucedeu nos negócios. Transformou a marca de acessórios de couro e baús de viagem em um conglomerado que dita tendências na moda.

Nascida em 1949, em Milão, conheceu, aos 28 anos, Patrizio Bertelli , um homem que começou seu próprio negócio no setor de acessórios de coro com apenas 17 anos. Além de se tornar seu marido, Bertlli se mostrou indispensável como diretor comercial da Prada.

Miuccia e Patrizio se completam. "Ele é a cabeça, e nós somos os braços", diz Miuccia referindo-se ao marido e à equipe de criação. A parceria de 34 anos é uma das mais bem sucedidas do mundo da moda. Desde que se conheceram, em uma feira de negócios de Milão, fizeram a empresa alcançar um nível de performance que seu fundador, Mario Prada, talvez nunca sonhou. São 4 marcas (Prada, Miu Miu, Church’s e Car Shoe) e 267 lojas em 65 países. Por ironia do destino, Mario Prada não acreditava que mulheres fossem boas para negócios.

A primeira investida criativa de Miuccia no universo fashion foi em 1985. Subvertendo a ordem tradicional da empresa em trabalhar com couro, lançou uma coleção de bolsas feitas de nylon preto e, em 1989, desenhou a primeira coleção de roupas femininas. Com isso a marca conquistou celebridades de todo o mundo e viu-se, então, a oportunidade de criar uma outra grife, a Miu Miu.

Este segundo grande passo da estilista visava atingir um público mais jovem. Com referências trazidas de seu próprio armário, a Miu Miu (apelido da criadora) faz o estilo mais cool e tem preço um pouco mais acessíveis que a primeira grife. Em contraposição com outros estilistas que buscam referências externas, Miuccia é conhecida por usar a intuição na hora de criar suas coleções,.

Ao longo dos anos ela e seu marido desafiaram alguns riscos e enfrentaram altos e baixos na economia e na moda, mas o resultado tem sido positivo. No ano que tomou a frente da Prada, a empresa vendia cerca de US$ 450.000. Hoje ela já está na marca dos US$ 1.7 bilhões. Um crescimento vertiginoso.

Esses números não fazem de Miuccia Prada uma fashionista deslumbrada. Talvez por ter outros interesses e uma estreita relação com assuntos humanitários, - como os direitos das mulheres pelo qual militou nos anos 1970 - para ela a moda não deve ser levada tão a sério: "Eu amo moda, mas acho que ela deveria ficar em seu lugar, e não ser uma regra em sua vida. É uma boa parte da sua vida, mas deve ser diversão."

domingo, 3 de julho de 2011

A ESTÉTICA GRUNGE DO ESPETÁCULO PEQUENAS FRESTAS DE FICÇÃO SOBRE REALIDADE INSISTENTE (PFDFSRI) DA CENA 11 CIA DE DANÇA


PARA MUITAS PESSOAS DA MINHA GERAÇÃO, HOJE NA CASA DOS 30 ANOS, QUE ASSISTIREM PEQUENAS FRESTAS DE FICÇÃO SOBRE REALIDADE INSISTENTE (PFDFSRI) (2006), DA CENA 11 CIA DE DANÇA, NÃO SERÁ DIFÍCIL CAPTAR UMA CERTA VIBRAÇÃO GRUNGE ENTORNO DO ESPETÁCULO. A ESTÉTICA GRIS, DO PALCO E DO FIGURINO, É APENAS O FATOR MAIS APARENTE QUE NOS REPORTA AOS ANOS 90. REMONTANDO A HISTÓRIA DESTA COMPANHIA DE DANÇA, ENCONTRAMOS DIVERSOS E SUTIS ELEMENTOS DESTA CULTURA PÓS-PUNK.


BACK TO 1994

Precisamente, o ano de 1994 (ano da inauguração da Cena 11) foi determinante para o que aconteceria na música nas próximas décadas. Em abril daquele ano, Kurt Cobain, líder do Nirvana, decidiu por fim à sua vida, levando com ele a breve era grunge do rock, porém, deixando o sentimento de apatia social como herança para aqueles que ficaram.

Devido ao descontentamento dos caminhos que estavam sendo construídos pela cultura de massa, muitos jovens naquela época, assim como Kurt Cobain, estavam angustiados e descrédulos quanto ao futuro. Esses sentimentos eram expressados pelo comportamento indolente e pela música, através de melodias simples e sujas.

Paradoxalmente, com a emergência de novos artistas, o ano de 1994 refletiu um outro lado de seu zeitgeist. Um lado mais híbrido e disposto a absorver novas tecnologias para produção cultural.

Nos Estados Unidos, o músico Beck lançava o disco Mellow Gold, influenciado pelo folk e, incorporando a este, elementos eletrônicos em melodias com letras oblíquas e irônicas: uma colagem musical que relembrava a pop art e trazia para a música, a entropia e o cinismo, característicos da pós-modernidade.

Já no Brasil, também em 1994, a banda Chico Science e Nação Zumbi, do movimento MangueBeat traduziram o significado da entropia cultural da pós-modernidade, para a realidade brasileira da urbanização desordenada. Misturando o maracatu - ritmo do folclore pernambucano - com o rock, hip hop e a música eletrônica, a canção "Da lama ao Caos", do álbum de estréia com o mesmo nome, dizia: "Posso sair daqui para me organizar, posso sair daqui para desorganizar".

Neste caldeirão cultural cozinhava-se, junto e ao mesmo tempo, linguagens e novos suportes tecnológicos, tanto para produção quanto para distribuição de arte. As filmadoras portáteis, os CDs, a computação gráfica, a televisão a cabo eram então absorvidas no cotidiano das pessoas.

E A CENA 11 COM ISSO?

A criação e as propostas da companhia de dança Cena 11, já no seu espetáculo de estréia, Respostas Sobre Dor (1994), evidenciavam a hibridação das linguagens e de aparatos tecnológicos com a dança, através do uso de vídeo, poesia microfonada e música ao vivo. Principalmente se observado em retrospectiva, vemos a transposição dos valores da pós-modernidade e a da contra-cultura sendo inspirados e expirados pelos bailarinos, desde que o trabalho do grupo começou.

No segundo espetáculo a Cena 11 apropria-se do movimento MangueBeat para criar O Novo Cangaço (1996). Este espetáculo marcou a busca de uma universalidade cultural híbrida da alta cultura e da baixa cultura, do corpo e da identidade, e finalmente, do presente e do ausente através de videocoreografias inseridas nas entre cenas do espetáculo.

Em IN'Perfeito (1997), a coreografia ganha a música do rock industrial de Nine Inch Nails (NIN). Muitas vezes tida como experimental, esta banda foi responsável por trazer para os anos 90, a mistura da sintetização sonora com letras que iam do desespero introspectivo às críticas sociais, criando uma carga sombria e quase catastrófica - algo esteticamente parecido com um pós-mundo, habitado por fragmentos meio humanos, meio máquinas, decadente. Seguindo a raia do inorgânico (sintético) da música adotada, esta coreografia narra, então, um homem cibernético, mas aparentemente mal adaptado a máquina fundida em seu corpo (representada por pernas de pau, máscaras e andaimes usados pelos bailarinos), criando movimentos desengonçados, e assim, gerando um desconforto para o público - sensação que, por sua vez, remete de volta às críticas explicitadas pelo NIN. A esta altura, talvez seja interessante notar que o reconhecimento mundial do NIN se deu em 1994, com seu terceiro álbum, The Downward Spiral, mesmo ano que aconteceu a segunda (e desastrosa) edição do Woodstock, no qual eles participaram.

A Cena 11 faz sua última montagem do milênio em 1998, com A Carne dos Vencidos no Verbo dos Anjos, baseado na poesia de Augusto dos Anjos; e, no ano 2000 invadem o mundo do videogame com o espetáculo Violência - este todo produzido sobre a simbologia dos jogos de guerra e de caça (monstros, zumbis e vampiros), e usando técnicas de computação gráfica para o cenário.

Estando, então, estabelecidos como referência da dança contemporânea transmídia no Brasil, o grupo mostra interesse não apenas na pesquisa de espaço e movimento na dança, mas também com a interdisciplinaridade da arte contemporânea, principalmente, nas suas investidas tecnológicas, indispensáveis na era digital, culminando, então, no espetáculo interativo - sendo a interatividade o fenômeno máximo da era digital - entre bailarinos e público, o Projeto SKR (2002).

Depois, em 2005, o espetáculo SKINNERBOX, usa a psicologia comportamentalista para questionar o comando e a liberdade corporal, tendo a robótica como objeto representativo desta condição. Ou seja, a dança interdisciplinar incorpora a psicologia, que por sua vez estuda a liberdade do corpo.

 PFdFSRi., POR UMA SAUDOSISTA

Em 2006 estréia PFdFSRi. Com cenário e iluminação discreta, o palco, inteiramente cinza, tem ao fundo, uma tela onde as pessoas da platéia são projetadas. Ao aparecerem os rostos, os olhos são censurados por uma tarja preta sobreposta graficamente à imagem.

Uma guitarrista acompanha a coreografia, em um timbre agudo e voz suave. Além desta fonte musical, muitas vezes os próprios bailarinos participam da trilha sonora batendo em objetos percussivos ou produzindo um estrondo ao jogar os próprios corpos contra o chão do palco. O resultado é uma estética tanto visual como musical, agressiva e minimalista.

Além da estética minimalista e monocromática (música e cenário), outros elementos lembram muito o grunge. As poucas cores que se apresentam no espetáculo ficam por conta de objetos que encenam junto com os bailarinos: boneca, espantalho, balões de hélio, cachorro e um dispositivo que dispara bolinhas de paintball. Estas referências infantis foram, frequentemente, usadas pelos artistas grunges - principalmente pelas feministas grunges, as Riot Grrrls - em videoclipes e capas de disco. Essas mulheres, (de bandas como Babes in Toyland, Hole e Bikini Kill) usavam vestidos parecidos com os que vemos no figurino de PFdFSRi, e que lembram roupinhas de boneca, contrastando com o coturno preto dos pés.

A tecnologia usada neste espetáculo foi desenvolvida exclusivamente para ele. Bolas de paintball são automaticamente atiradas contra a bailarina protegida por um escudo transparente de 360º. Assim como na vida, ela depende desses estímulos externos - que por sua vez, são vinculados as projeções dos rostos da platéia no palco - para decidir seu próximo movimento.

A narrativa de PFdFSRi, é uma sequencia de movimentos que parecem estar sempre lutando contra uma força externa. Esta luta é nítida na primeira cena: de dois em dois, os bailarinos se revezam em um ato onde um deles inflige uma posição e uma força sobre o outro que, por sua vez, deve acatar, porém com certa resistência. Eventualmente esta resistência rompe com a força imposta. Esta luta de forças está presente não só na crítica anti-cultura de massa do grunge, mas em todas as formas de culturas não hegemônicas. Porém pela dramaticidade quase submissa representada no palco, lembramos muito dos anos 90, quando a utopia anti-capitalista desvanece, deixando todos órfãos de uma ideologia alternativa, e consequentemente, entregando-se muitas vezes a esta força maior. No caso do grunge, esta força era a Indústria Cultural para quem "ele" submeteu-se. No entanto, esta relação durou pouco tempo pois, com o fim do Nirvana, este estilo perdeu apelo comercial, e voltou ao anonimato.


Ao contrário do grunge, não é para o anonimato que a Cena 11 parece estar caminhando. Além dos vários prêmios que reconheceram a importância da pesquisa e prática do grupo, após PFdFSRi, foram montados outros seis espetáculos, sendo o último, SIM: Ações integradas de consentimento para ocupação e resistência – Ação #02 (2010). A equipe, patrocinada pela Petrobrás, dedica-se integralmente a esta companhia, e podemos esperar por algo novo em breve.